Wednesday, December 28, 2005

Don't try this at home

por consequência de antes que me deite


Coroa de espinhos, dissonância, desgosto para o gosto da brincadeira de mau gosto.

Arte, pois. Em agosto.

Dança de ventre, desporto radical, pesadelo com paisagem duvidosamente quente.

Posse do corpo, faquir flutuante, nudez anerótica.

Corpo vedado. Vendado. Vendido?

Convivência harmoniosa com o horror.

Tortura para salvação da arte, para descobrir os segredos do medo e da dor.

Redundância.

Aproximação dolente da lente ao sofrimento e ensaio do limite humano.

Construção, escavação histórica na mente, no hipotálamo, na consciência.

Anestesia.

Espinho cravado em carne para Canon.

Tétrica observação obstétrica.

Barriga de aluguer.

Parto com dor.

Tuesday, December 27, 2005

Uma maçada


Testes há sobre a fruição humana que vislumbram firmamentos em zonas azuis do acaso e trazem para a frente fria da realidade ocasos e truques de ilusionismo. São infalíveis como a morte que diz Tonino Guerra não ser maçadora por só nos visitar uma vez.

Não adianta nada não entender porque para sempre haverá uma fórmula que não corresponde às expectativas e leva o sol para uma dormência absoluta em que já não há pé.

Seja como for há sempre a hipótese de não ser verdade e estar tudo perdido na mesma. Diria, se pudesse, que foi bom na tal vez em que não cheguei a acordar.

O dia gnóstico nasce na parte mais alta da sobrecarga electrónica que envolve os precipícios soterrados. Não é carne nem é peixe que se fosse peixe continuava a ser carne embora não fosse carne da minha carne nem peixe do meu peixe. Sonhos de um pesadelo distante.

Mas não era sobre isso que eu queria falar hoje.

Estava antes a pensar no desespero que ocorre nas tardes de lua cheia. Ela diz: espera. E eu continuo a esperar, pondo a esperança em espera forçada. Mas isso seria mais assunto para um prólogo.

Não é ainda hoje que vou conseguir chegar lá. O percurso é longo, desengonçado, rematadamente estreito para as formas que se formam à beira dos lagos de sangue.

Hoje, pensando que hoje já é amanhã, ainda vou conseguir perceber o que está escrito nas tabuletas da loja de curtumes. Se passar por lá fotografo as enormes letras. Uma por fotografia, alinhadas de maneira a não lhes perder o sentido que, ao que me parece, não têm.

Resta, portanto, desejar boa noite aos morcegos e aos gatos selvagens, avançar calmamente para o lugar vazio das espinhas torcidas e declarar na alfandega não ter nada a declarar a não ser não ter nada a declarar a não ser não ter nada a declarar a não ser não ter nada...